Veja os impactos da saída da Ford do Brasil para a indústria metalúrgica
A Ford anunciou recentemente o fechamento de dois de seus principais polos industriais: Taubaté (SP) e Camaçari (BA), o polo industrial de Horizonte (CE) foi decretado o fechamento até o quarto trimestre de 2021. Mas afinal, como isso afeta a indústria metalúrgica?
O primeiro ponto que devemos observar é a grande massa de desemprego que a desativação gera. O fechamento da fábrica no Brasil levará à demissão de 5 mil trabalhadores diretos, sendo que 830 são da unidade de Taubaté. E também deve provocar outras 15 mil demissões no setor de autopeças no país.
Os cortes acontecerão apesar de todo incentivo fiscal que os governos sempre deram ao setor automotivo. Nos últimos 20 anos, as montadoras receberam R$ 69,1 bilhões em incentivos federais (valores corrigidos pela inflação).
Causas e justificativas
“Continuidade do ambiente econômico desfavorável” e “pressão adicional causada pela pandemia” de covid-19.
Essas foram as duas principais justificativas citadas pela Ford em sua decisão, anunciada na segunda-feira (11/01/2021), por meio de um comunicado à imprensa, de encerrar a produção de veículos no Brasil.
A Ford comunicou que todos os clientes seguirão com assistência de manutenção e garantia. Porém especialistas do setor automotivo preveem forte desvalorização dos veículos que vão ser descontinuados e a possível falta de peças para eles.
Conforme notícias, a Ford já vinha enfrentando problemas para operar no Brasil, tornando-se dependente de subsídios federais para suprir sua cadeia produtiva. Tais subsídios não foram prorrogados, portanto, tudo indica que isso contribuiu para a decisão.
Impacto na metalurgia
Por ser uma indústria que envolve diretamente a metalurgia, a descontinuidade na fabricação nacional de vários modelos, bem como de peças e acessórios, cira um vácuo temporário de curto prazo que causa um impacto negativo, entretanto, abre a possibilidade de fabricantes paralelos para suprir às necessidades atuais.
Economista e professor da PUC-SP, Antônio Carlos Alves dos Santos avalia que a decisão da Ford reflete mais as mudanças na indústria automobilística mundial do que os gargalos históricos da economia brasileira.
“Você tem a mudança no padrão tecnológico, que vai ser o carro elétrico. Além disso, no caso da Ford, ela vem redefinindo as prioridades, optando por ficar fabricar os produtos de maior lucratividade, como, por exemplo, o Mustang”, afirma.
Sendo assim além da possível desvalorização, falta de peças, desemprego em massa, isso geraria um declínio na indústria metalúrgica. O aço é um dos principais componentes para a fabricação de peças.
Com esse desemprego em massa, o poder de compra diminui, o trabalhador prioriza manter sua casa ao invés de trocar de carro por exemplo, mesmo que esse seja popular. Já que o fator economia + pandemia contribuem e muito para isso.
Partida gradual
A Ford anunciou que “não sairá do país completamente” mas que está passando por um modelo de reestruturação trazendo novos modelos. Essa é uma grande oportunidade para outras montadoras em solo brasileiro explorarem melhor o mercado e negociar matérias primas, o que torna o mercado mais competitivo e atrativo para o consumidor.
A Ford é uma empresa tradicional e que fabrica há mais de 100 anos no Brasil, visto que um carro (pelo menos grande parte dele) depende de metais base que vem da metalurgia para a sua fabricação, a saída da ford causa um impacto imenso. São menos carros sendo adquiridos e fabricados, ou seja , menos metal sendo comprado. Essa pode ser uma boa oportunidade para algumas montadoras que estão em território nacional, sendo elas JAC, Nissan e muitas outras.
A saída de uma empresa com nome e confiabilidade no mercado, ainda mais nessa magnitude, modifica toda uma estrutura como preços de mercado, novas exigências de clientes e assim por diante, o que impacta diretamente a indústria metalúrgica.
Conclusão
Da mesma forma que o cenário econômico foi forçado a se adaptar perante a crise, tendo números negativos em todos os setores, o impacto causado pela Ford pode ser considerado como um “mote adicional” aos problemas que o mundo está enfrentando.
O que buscamos compreender é a profundidade que isso causa na economia metalúrgica, que tem grande importância para o cenário econômico nacional.
A melhor saída é buscar soluções inteligentes, ao invés de apontar culpados.